Os novos talentos do Rock Gaúcho
Todo mundo tem um sonho na infância – ser bombeiro, professor ou astronauta. Mas o sonho dos integrantes das bandas Sayajins e Husks, era de entrar no estrelado mundo dos rock stars. Grupos de rock têm muita dificuldade no início. É preciso arranjar lugar para ensaiar e ter show para mostrar seu talento, mas eles enfrentam todos esses obstáculos com bom humor.
Aramis no baixo, Mauro Junior na guitarra e vocal, Jones Winck na bateria e Tierry Severo no vocal e guitarra integram a banda Sayajins. O grupo formado há mais ou menos um ano mistura rock com diversão quando faz os seus shows. Suas principais inspirações são Raimundos e Mamonas Assassinos. A formação veio de uma conversa. Todos tinham essa vontade de tocar em uma banda, reuniram seus gostos e acabaram se reunindo. A formação é a mesma desde o início, mas contou com participações especiais. “Mantiveram-se os mesmos, mas tivemos participações especiais, como o Jonas que tocou triângulo e cantou”, disse Aramis. Naturais de Rio Pardo, passam muitas dificuldades, como falta de tempo para ensaiar, já que a maioria trabalha. Shows também é difícil de fazer, pois a maior parte dos eventos acontece na sexta-feira e em outras cidades.
A Banda Husks ainda também é muito nova, são menos de dois anos na estrada. Entre várias formações, essa é a que está a mais tempo junta. Com Vicente Mâncio como vocal, Cirillo Poersch na guitarra, Andy Oliveira no baixo e Christian Alves na bateria. Eles possuem um estilo de rock alternativo, influências de Queens of the Stone Age, Muse, Jack White, RadioHead e Scalene. Para Andy, os integrantes da banda sempre quiseram fazer uma música diferente em Rio Pardo, distinto do que as outras bandas vinham fazendo na região. “Víamos várias bandas fazendo a mesma coisa na cidade, tocando a mesma coisa por anos, e a gente não almejava mais ouvir. Nós queríamos ouvir outras coisas, rock mais moderno, ou tocado de outra forma”, disse Andy.
Mas nem só de glórias e coisas boas se vive uma banda. Vexames são sempre marcas registradas, ainda mais quando se está tão pouco tempo na estrada como eles estão. O primeiro show da Husks foi de surpresa, os integrantes não sabiam que iriam tocar. Numa festa, uma banda acabou tendo desentendimento entre os integrantes e convocou eles para tocar no lugar. Já com algumas cervejas na conta, resolveram tocar para não deixar o evento morrer. Com cinco ou seis músicas ensaiadas, este foi o primeiro desafio da banda. “Teve uma música em que a gente se atrapalhou e o nosso vocalista ficou com vergonha e saiu do palco. Ficamos meio travados, mas depois continuou tocando a mesma coisa. Mas, do nada, ele voltou e deu um berro, e fechou assim. Nós estávamos tocando a Live do Pearl Jam”, contou Cirillo.
A Sayajins tem momentos marcantes, mesmo tocando poucas vezes. No seu último show, o que ficou registrado nas memórias deles, foram gritos contra políticos, com integrantes do público subindo em cima do palco e batendo nas caixas de som. “Na verdade, tocamos poucas vezes, todos foram marcantes, mas o último teve o pessoal gritando fora Temer, entre outras coisas” disse Aramis. A Husks também tem apresentações inesquecíveis. Eles tinham o sonho de tocar no festival Confraria do Rock. “Foi muito legal, exatamente por isso mesmo, de tocarmos algo diferente, ver as pessoas da nossa cidade pulando junto, vibrando junto. Foi, tipo, assustador de ver”, expressou Andy. Esta foi a primeira apresentação deles, em que foram tocadas músicas próprias. “Ver a galera pulando com uma coisa que tu criou, tem uma energia diferente”, contou Cirillo.
A Husks está quase fechando um EP (Extended play) com suas canções, que deve sair quando terminarem de gravar mais duas músicas. O preço para gravar suas melodias é em torno de R$ 800, caro para uma banda que ainda não ganha muito com cachê nas apresentações. Gravar as músicas próprias e lançá-las é o maior sonho da banda.
Sempre que se inicia um projeto novo, ainda mais quando se é mais jovem, a ajuda financeira costuma vir da família. Andy diz que o pai dá uma mãozinha, porém, que ele acha insuficiente. Mas já para Cirillo, a ajuda é muito boa. O pai dele fornece carona até os eventos e um local para ensaiar. Eles experimentam suas músicas em um local que foi um depósito de roupas de uma antiga loja. O pai do Cirillo ajudou a arrumar o lugar, derrubando algumas paredes e abrindo espaço até com o próprio pé, para a banda ter um local só seu. “Meu pai e minha mãe sempre foram muito motivadores, tanto que eles cederam o espaço para a gente tocar. Meu pai sempre nos leva quando consegue, ajuda, paga algo quando precisa. O pai do Vicente, nosso vocalista, também sempre ajudou. No geral assim sempre teve motivação”, indicou Cirillo.
Por ser uma banda muito nova ainda, a Sayajins não presencia loucuras de fãs. Costumam ocorrer coisas do tipo pessoas pulando no palco e batendo nas caixas, segundo Aramis. Com a Husks, já teve menina ficando brava, porque o seu vocalista não tinha adicionado ela no seu perfil na rede social Facebook.
O cenário do rock na cidade não é muito confortável, mas ainda há eventos para se apresentar ou para aproveitar o estilo. Mas esses eventos são muito esporádicos, a cidade sente a carência de um local próprio, para ir todo o dia ou, no mínimo, nos finais de semana para dar aquela relaxada. Para a banda Husks, achar um lugar e arrumar um espaço no panorama do rock na região é o seu maior desafio. “Aqui na cidade, o rock mais antigo, como por exemplo o Legião Urbana e rock gaúcho, já conquistaram o seu espaço, já tem público, sempre vai ter fãs para esse tipo de coisa. Mas para o que nós tocamos, como por exemplo um Muse e Queens of the Stone Age, a gente vai ter que construir esse público”, afirmou Cirillo. Num cenário tão desfavorável, é na paixão pela música que eles se agarram para conseguir estruturar uma carreira de sucesso.