Futebol também é com elas!
Cada treino é uma esperança para se tornarem jogadoras profissionais em um esporte dominado por homens
O futebol feminino vem crescendo no Brasil desde as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Os brasileiros simplesmente abraçaram as jogadoras da seleção brasileira. Mas mesmo com esta popularidade, as dificuldades para mulheres se profissionalizarem neste esporte ainda continua. Pouco investimento financeiro; falta de um campeonato profissional e baixos salários são fatores para este cenário.
Mas, felizmente, isto aos poucos esta começando a mudar. Em Santa Cruz do Sul, o Esporte Clube Avenida criou em agosto deste ano uma equipe feminina. O time conta com jogadoras de Caçapava; Monte Alverne, Rio Pardinho e Santa Cruz do Sul e realiza seus treinos todos os sábados no campo do Avenida ou no campo da Universidade de Santa Cruz do Sul-UNISC.
Esta iniciativa partiu do time de futsal Phoenix de Santa Cruz,
como esclarece a jogadora e coordenadora do departamento do
futebol feminino do Avenida, Patrícia Molz. “Nós criamos há
quatro anos nossa equipe de futsal, na realidade foi uma reunião
de meninas que gostavam de jogar futsal nos finais de semana.
Começamos a participar de alguns torneios e estamos até hoje.
Tivemos vários treinadores e nosso último agora, o Alex,
conversou com a gente e com a diretoria do Fênix e depois foi
falar com o presidente do Avenida a respeito da possibilidade de
criar um time feminino no clube. A ideia foi aprovada e hoje temos nosso departamento no clube, tendo uma recepção muito boa por todos do clube e torcedores”.
No futebol de campo, as jogadoras apenas realizam amistosos, mas pretendem ano que vem participar de competições pelo Rio Grande do Sul. E para manter o ritmo elas continuam com o time de futsal, onde participaram da Taça Coopeva, de Venâncio Aires. Nesta competição a equipe ficou em terceiro lugar e também teve jogadoras premiadas pela atuação.
Como futebol é comandado quase totalmente por homens, o preconceito infelizmente aparece quando uma mulher quer praticar o esporte. O sonho em se tornar uma jogadora profissional e ganhar a vida com isto faz com que muitas passem por cima do preconceito. “Como justamente eu era uma das únicas meninas que jogava no meio de meninos, vinham algumas pessoas que diziam que isto não era certo, o que menina queria estar jogando bola. E este preconceito continua até hoje. Então, infelizmente, a gente encara isto como um desafio, mas acabamos passando por cima e ignorando certos comentários e atitudes”.
Hoje, no Brasil, o futebol feminino comparado ao masculino continua em desvantagem. Como por exemplo, em remuneração. “Salário pelo nosso trabalho é difícil. Nós sabemos que o futebol masculino sendo ele profissional ou amador em algumas competições, recebe uma remuneração, muito pouca também, pelo resultado e o que representa o futebol. Mas aqui no Rio Grande do Sul e até mesmo no Brasil muitas vezes nem é remunerado. Esta diferença se deve justamente por ser algo voltado para os homens, acho que eles acabam desprezando e valorizando menos o que a mulher acaba fazendo”.
Cenário do futebol feminino no Brasil
“Ganhamos vários fãs na Olimpíada, enchemos os estádios. Isso é o maior prêmio. Lógico que queríamos o pódio, mas ser aplaudida em todo lugar, isso que vamos levar. Agora peço ao povo brasileiro: Não deixe de apoiar o futebol feminino. Precisamos muito de vocês“. Esta é a declaração da jogadora Marta da seleção brasileira feminina de futebol, logo após perder a disputa da medalha de bronze para a seleção do Canadá, nos jogos olímpicos do Rio de Janeiro deste ano.
Este desabafo retrata bem o cenário que o futebol feminino enfrenta no Brasil. Baixos salários ou nenhuma remuneração financeira; pouca valorização; falta de campeonatos e preconceitos. Estes são alguns dos fatores que contribuem para a baixa popularização do futebol feminino no Brasil, que até já foi proibido por lei no País.
Mas, mesmo com esta desvalorização, muitas mulheres continuam a luta para jogarem futebol. Patrícia esclarece a importância de receber o apoio da família. “Desde os meus 7 anos já jogava na escola sempre no meio da gurizada.E desde aquele momento continuo jogandofutebol até hoje. Minha família sempre me apoiou, nunca me disseram que não podia fazer aquilo. Eles sempre me incentivaram a correr atrás do que eu queria. Quando surgiu a oportunidade de ser coordenadora do departamento de futebol feminino, minha família, meus amigos me apoiaram incondicionalmente”.
Em países como Canadá, Estados Unidos, Alemanha, o futebol feminino é valorizado. As jogadoras são remuneradas e recebem toda estrutura que uma equipe masculina possui. Já aqui no Brasil a história é outra. Mas algumas instituições estão modificando esta realidade. A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) modificou seu estatuto dando destaque para o futebol feminino. Esta ideia começa a valer a partir de 2019. Todas as equipes masculinas que disputam a Libertadores da América e Copa Sul-Americana serão obrigados a terem uma equipe feminina para poderem participar destas competições.
Outra medida importante que aconteceu foi à escolha de Emily Lima para ser a primeira técnica mulher da seleção feminina de futebol. Anteriormente a equipe foi treinada por Zé Duarte, Renê Simões, Fernando Pires, Ademar Fonseca, Wilsinho Oliveira, Paulo Gonçalves e, por último, Vadão.
Futuro do Futebol Feminino
O projeto do Avenida esta sendo muito bem recebido pelas pessoas e cada vez mais tem atraído interessados. “Em cada pontinho da cidade temos um contato com alguma menina que quer jogar futebol. O legal é que os pais estão trazendo as meninas menores de idade para treinar e isto é algo muito gratificante. Eu me sinto muito bem em fazer parte deste projeto, desta história e saber que isto está dando certo. Já recebemos convites para jogar outros torneios, amistosos e levar nosso futebol adiante”, esclarece Patrícia.
O time treina a todo vapor. As jogadoras estão fascinadas com toda a estrutura que estão ganhando do Avenida. O clube oferece campo e todo o vestiário. “Agora temos a primeira técnica mulher na seleção feminina e algumas leis que incentivam a criação das equipes femininas. Nós hoje estamos um pouco escondidas aqui no interior, mas agora tem bastantes olheiros e quem sabe nossas meninas podem receber oportunidades para se tornarem jogadoras profissionais”.
História do futebol
Segundo o site Última Divisão, o primeiro registro de uma partida de futebol feminino vem da Inglaterra, onde em 1898 aconteceu o jogo entre Inglaterra x Escócia.Aqui no Brasil, a primeira partida oficial entre mulheres ocorreu em 1921, entre moças dos bairros Tremembé e Cantareira, na zona norte de São Paulo. O interessante de se observar é o modo como os veículos de comunicação noticiavam esta notícia. Como o jornal A Gazeta, por exemplo, que anunciava a partida como uma atração “curiosa”, quando não “cômica”, em meio às festas juninas.
A primeira seleção brasileira feminina foi convocada em 1988 pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Desde este período,o futebol feminino teve alguns avanços.Em 1991 a Federação Internacional de Futebol começou a organizar eventos para o futebol feminino, como a primeira Copa do Mundo em 1991, na China e em 1996 a modalidade foi incluída nas Olimpíadas de Atlanta.
Foto: Divulgação/Avenida
Foto: Divulgação/Avenida
Foto: Divulgação/Avenida
Fotos abaixo: Divulgação/Avenida