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Mais do que divertir, encontrar o palhaço que existe em você pode lhe ajudar a aceitar seus defeitos

 

O palhaço fascina pessoas de todas as idades. Vendo aquele tipo bobo que só se mete em enrascada, leva torta na cara e cai no chão, é quase inevitável segurar o riso. Mas essa figura do palhaço é milenar. Apareceu há aproximadamente quatro mil anos, em teatros ou mesmo em representações religiosas no oriente, ou nas comédias teatrais na Grécia e em Roma. No entanto, encontrar o palhaço dentro de você pode lhe ajudar a ter autoestima.

 

É o que a fisioterapeuta Juliana de Souza Meirelles diz. “O palhaço é uma figura transgressora, que não tem medo do fracasso. E hoje em dia vivemos numa sociedade em que temos que ter sucesso e nos enquadrar em padrões de beleza. O palhaço vem e quebra com tudo isso.” Juliana, que também é professora de flamenco, faz parte da trupe Construindo seu Clown, e se diz fascinada por essa figura. E foi a curiosidade em entender como é construído o palhaço que a levou a fazer um curso. “Eu já tinha uma informação que era um trabalho interno, pessoal. Encontrar o seu clown, ou o seu palhaço, no meu caso minha palhaça, é fruto de uma investigação interna.”

 

Com o Construindo seu Clown Juliana faz intervenções de rua interagindo com as pessoas sem roteiro, usando as técnicas e os jogos aprendidos em aula. Uma dessas intervenções ganhou o nome de Fitness Clown, onde a ideia era conscientizar as pessoas sobre a importância da prática de exercícios. Essas intervenções são parte da vivência do palhaço. Ainda durante o curso, cada aluno foi dirigido em uma cena individual já com o seu palhaço constituído. E essas cenas formaram um espetáculo que se chama Agora é Sério, que é apresentado em espaços culturais em Porto Alegre, mas a expectativa é poder trazer para o interior do estado.

A graça está na nossa desgraça

 

A frase Juliana atribui a Karla Concá, fundadora das Marias das Graças do Rio de Janeiro, onde fez um curso de imersão de palhaçaria. “Essa frase me diz muito sobre esse processo de descoberta ou encontrar o seu palhaço, você precisa estar muito seguro de si para poder rir da sua fragilidade.”

Os defeitos de cada um são transformados em potencialidades que permitem a construção do seu palhaço. Portanto, não é um personagem pois faz parte da personalidade escondida de cada um permitindo que as pessoas se identifiquem em algum momento da sua fragilidade, onde ele se torna mais humano. “A minha palhaça é uma Juliana muito maior, mais expansiva, que por algum tempo ficou escondida e hoje já vem à tona com todo esse processo.”

 

A palhaça Salsalita

Salsalita é o nome da palhaça de Juliana. Encontrar os seus defeitos e fazer deles características, ajudou a impaciente fisioterapeuta a olhar a vida de uma maneira diferente. “A minha palhaça me trouxe leveza, uma outra lógica de olhar a vida, de estar mais presente. De olhar para as pessoas e querer ouvir o que elas têm pra falar e não ficar olhando para o celular pensando em outras coisas. Me sinto um ser humano melhor.”

 

Essa transformação tem a ajuda da Salsalita, a palhaça que Juliana foi criando com o trabalho no Construindo seu Clown. Após se maquiar, Juliana se transforma e quem continua a entrevista é Salsalita, que faz graça para a câmera, dá risada e conta, com sotaque espanhol, como são seus amigos. “Eu tenho uma amiga que é uma mendiga. Uma que vira uma galinha. Eu tenho um amigo que é um bêbado e é uma pessoa incrível.”

 

Salsalita aproveita para convidar para que todos visitem a página do Construindo seu Clown no Facebook e encerra dizendo porque é bom ser palhaça. “É muito bom rir da gente mesmo. As pessoas devem rir muito. Ser feliz e voltar a ser criança. Essa é a maior satisfação em ser palhaça. O sorriso, a alegria e a amizade.”

 

 

Sobre o grupo Construindo seu Clown

Na página do grupo está posto que o “Projeto que visa expandir e resgatar a essência do ser ‘Palhaço’.”

 

Contando com dois módulos, o curso busca a conexão entre as pessoas, a consciência corporal e prontidão para o jogo e para o improviso. O projeto foi fundado por Rafael de Moura, que é músico, ator, artista circense, malabarista, palhaço, produtor e diretor.

 

Seguem abaixo alguns depoimentos de quem participa do grupo:

Demavi: ''Aqui eu posso brincar, rir, me desenvolver, aprender sobre mim e meu palhaço de uma forma natural. Brincando também se aprende a socializar com as outras pessoas, meus colegas palhaços que me ajudam a desenvolver a mente, a criatividade, habilidades, sem cobranças e medos e sim com muito prazer e alegria.''

 

Karin: ''Reviver a inquietude e a fragilidade que a criança, generosamente, nos presenteia. Aceitar e oferecer o meu "ridículo" para o outro, rir e deixar rir. Difícil, bonito e necessário. A Magrela me mostrou um olhar despretensioso e me deu uma chance de me reconstruir. E isso é só o início.''

 

Renata: "Orgulho do que me tornei!

Orgulho da minha transformação!

Orgulho de aceitar meus defeitos e meus erros! Orgulho de me (re)descobrir! Orgulho de quem eu sou!

Orgulho de poder ser quem eu sou!

O processo ainda é longo, mas ainda tenho uma vida inteira pela frente..."

 

Vitória: ''Justo à mim coube ser eu.''

 

''Essa frase resume um pouco meu número, nesses 3 meses de construção e busca pela minha palhaça, tive grandes dificuldades de colocar pra fora as minhas inseguranças, sabe aquele medinho de que as pessoas enxerguem os teus defeitos, teu ridículo? Então, sempre tive, e aqui, pela primeira vez, consegui ser o que sou, livre, leve e solta.

 

E é só o começo!''

 

Lucas: ''Sempre digo aquela frase clichê, “qual a última vez que você fez algo pela primeira vez?” Depois de todo o tempo pesquisando números para me inspirar, bolando roteiro, fazendo máscara em frente ao espelho e ensaiando, chegou o grande dia da apresentação. Foi a primeira vez que fiz aquilo e foi um misto de “EITA” com “VAMOO TIMEE”, não quero sair mais daqui.

 

Me senti conectado comigo, com as pessoas ao redor e com uma fração do que a gente sempre tenta buscar aqui, a “conexão com a arte”. Não há como explicar, só sentir''!

 

Juliana: ''Minha palhaça está me conduzindo para um caminho mais divertido, tortuoso, às vezes, e que por momentos parece não levar a lugar algum!

Mas aí ela vem e me mostra outra lógica de ver o caminho, que sim tem outra saída, um atalho, uma outra possibilidade.''

 

Amanda: ''Meu número demonstra o quanto minha palhaça é lúdica. Ela gosta de ser inusitada e ao mesmo tempo atrapalhada. Ela reflete a alma da minha criança interior, que vai em busca dos seus sonhos e realiza coisas além da sua imaginação. Ela ama transformar seus desejos em personagens de desenhos animados."

 

Silvia: ''A minha palhaça esta me ensinando muitas coisas lindas, principalmente a viver com mais leveza! Adoroooo!"

 

Letícia: ''De um respirar mais leve, de uma redescoberta do sentir, de olhar sem medo e de deixar o ridículo se mostrar de sua maneira mais bonita. Sobre uma grande redescoberta de simplesmente ser.''

 

Rosana: ''Meu número traz a fragilidade, aquilo que nos faz humanos. O palhaço nos permite mostrar nosso ridículo, para brincar de falar a verdade transformando choro em riso, pintando paredes brancas em rabiscos de faz de conta.''

 

Mariana: ''A palhaça para mim é um lugar de chegada e estou aprendendo a ficar com ela e respirar no estado de graça. Talvez a coisa mais revolucionária que já fiz!''

O palhaço o que é?

Rosana Fraga
Karin Constantino
Amanda Cunha
Silvia Grassi
Vitória_Santoro
Gabrielle Martins
Demavi Sader
Renata Frantz
Mariana Peres
Juliana Meirelles
Leticia Pirotti
Lucas Haas

Fotos: Renato Teixeira e Cassia Tavares

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