Representar o município através da corte oficial de rainha e princesas é sinônimo de orgulho para quem já recebeu este título
Uma vez rainha sempre rainha! Ouvi esta frase por diversas vezes, vinda de quem outrora recebeu esta distinção. E realmente, mais do que uma faixa e coroa, não apenas durante um ou dois anos, as soberanas sempre farão parte da memória histórica do município que representam.
Este mundo mágico das cortes reais remonta há milhares de anos. Reis, rainhas, príncipes e princesas fazem parte de nosso imaginário desde pequenos, nas histórias contadas e que perpassam gerações. Diferente destes que seguem uma sucessão nos títulos de nobreza, na atualidade, as soberanas são escolhidas para representar a festa tradicional da cidade da qual pertencem.
Geralmente em trios, as meninas-mulheres tem a missão de levar para o estado e país as belezas de seu município e de sua gente, além, é claro, de divulgar as festividades locais.
Com toda a magia que envolve este posto, muitas meninas sonham com o momento em que poderão tornar-se rainha ou princesa. Mas é preciso preparação para alcançar o título tão almejado. Afinal, não basta sonhar.
Eu sempre fiquei vislumbrada com a elegância que as soberanas carregam junto de si. São muitos olhares admirados com os belos sorrisos e simpatia que elas transmitem. A jornada nem sempre é fácil, estudo, trabalho, família, mas garantem que a recompensa vale a pena.
Terra do Feijão
Nos anos passados, Sobradinho era considerado grande produtor da leguminosa. Atualmente o Feijão perdeu espaço para outros cultivos, mas a tradição segue mantida.
Desde 1984, o município polo da região Centro Serra do estado, escolhe suas representantes máximas. A iniciativa para eleger rainha e princesas, surgiu com a criação da Festa Estadual do Feijão no ano de 1983.
Este evento, junto da entidade FEJÃO, foram criados com o objetivo de estimular o desenvolvimento das atividades agrícolas, industriais e comerciais do município, sendo organizados por uma comissão de membros natos de diversas instituições locais.
Desde sua primeira edição ganhou relevância estadual, passando a receber visitantes de todos os cantos do Rio Grande do Sul e de outros estados do país.
A Festa que iniciou sendo realizada a cada três anos, atualmente é promovida de dois em dois anos, tendo sido a última edição no último mês de abril. Para a festividade, organiza-se uma programação que inclui feiras, exposições, shows e espaços culturais para que os mais diversos públicos compareçam.
A sede da Festa e Feira Agroindustrial é o Parque Municipal de Eventos Marci Luiz Nardi, que dispõe de área referente a 16 hectares. O grande espaço possibilita a circulação de muitas pessoas.
Desde a primeira edição a Festa elege suas soberanas, que representarão Sobradinho em eventos e viagens por dois anos. Dezesseis cortes já estiveram à frente da comissão de divulgação do município de aproximadamente 15 mil habitantes.
Uma família de princesas
Natália Luiza de Freitas Fetzer foi a mais recente entre suas familiares a ser
escolhida soberana da FEJÃO. Princesa da 15ª edição, escolhida em 2012, a advogada
teve o sonho do concurso atrelado à infância. A mãe e uma das tias da Natália
também foram princesas da festa em anos diferentes. “Desde pequena via fotos e
ouvia histórias da minha mãe e tia como princesas da Festa Estadual do Feijão.
O desejo de me tornar soberana creio que foi sendo construído com o tempo, não
houve um momento específico que decidi que concorreria, foi aos poucos que esse
desejo surgiu.”
Ela explica que indiretamente teve influência das duas por tê-las como exemplo,
mas não houve cobrança ou pressão para que optasse em concorrer. “Elas auxiliaram
muito na minha preparação, além do total apoio, recebi muitas dicas antes do
concurso, bem como durante o período em que fui soberana.”
Marta Regina de Freitas, a mãe da Natália, foi princesa da 1ª edição da Festa. Em 1984, a corte foi composta por quatro princesas, diferente de hoje que são apenas duas . Segundo Marta, isso ocorreu para que no caso de que uma ou outra não pudesse comparecer aos eventos, não houvesse grande desfalque. “As pessoas adoravam ver as soberanas, coroa, trajes, era muita novidade ver alguém da realeza”, revela.
Daquela época para hoje alguns quesitos de avaliação foram alterados. No primeiro concurso, cada candidata tinha que representar um time de futebol da região, atualmente representam diferentes entidades e podem concorrer a partir dos 15 anos. “No meu caso representei o Esporte Clube São Francisco. Era preciso morar em Sobradinho e ter no mínimo 18 anos. Tivemos duas semanas de palestras sobre toda história do município, etiqueta, desfiles, com Senac de recepcionista, bastante complexo para a época. Os jurados eram os prefeitos, deputados e outras autoridades. Tínhamos dois trajes, um padrão (chiripa estilizado) e outro social na escolha das candidatas”, comenta Marta.
A lembrança do dia do concurso segue presente. “Teve um coquetel informal e na sequência entrevista com cada candidata e os jurados em sala fechada na sede da AABB. Fizeram perguntas sobre o município (no meu caso) e me perguntaram se Sobradinho teria hotéis para acomodar os visitantes. Nessa etapa se recebeu uma nota e a noite com o desfile complementaram a escolha.”
Questionada sobre como sentiu-se ao ver a filha recebendo o título, a resposta não
seria diferente: “Amei e pela preparação dela percebi que tinha condições de ficar no trio.
Adoro esses concursos, não perco miss universo, miss brasil, essas coisas. Torço, acho
importante para o munícipio, para gerar turistas, gerar renda ao munícipio, estar na
vitrine, trazer os que já se foram a retornar, bem divulgado todos ganham. Mesmo com
os recursos de internet nada se compara com a visita das soberanas, um olho no olho,
cumprimento de mão.”
Irmã de Marta, Marivana Cristina de Freitas De Franceschi, tornou-se soberana no
ano de 1990, na quarta edição da Festa. Esta foi a única vez da qual participou de
concurso de beleza. “A escolha na minha época era um almoço no sábado de meio dia
com os jurados, onde os mesmos ficavam em uma sala e nós éramos chamadas de
uma a uma para eles fazerem uma entrevista, perguntas sobre o município. Nessa
ocasião usávamos uma roupa de nossa escolha, traje auto esporte. À noite era um
traje típico social, onde somente ocorria um desfile individual e coletivo”, complementa.
Querência Amada
Foi com esta música que a estudante de Direito, Maini Dornelles, entrou na passarela para o desfile no qual tornaria-se rainha da 15ª Festa Estadual do Feijão. Ela, que representou o C.T.G. Galpão da Estância no concurso, explica o que representa o título que recebeu. “A mudança de vida e costumes. De uma menina, passei a ser uma mulher respeitada aonde ia, sempre sendo reconhecida nos lugares onde passei. A FEJÃO me fez completa, aprendi muitas coisas passando por este momento. Aprendi e vivenciei coisas que jamais teriam acontecido se não carregasse esse título comigo.”
Durante todo o período no qual as soberanas exercem a função de divulgação, é preciso conciliar muitos afazeres e a rotina por vezes torna-se agitada. “Durante o auge da festa eu já estava na Faculdade de Direito e trabalhando, então precisava conciliar todos os compromissos, com noites de estudo e recuperação de trabalhos e provas. Foi intenso, mas acredito que cada minuto valeu a pena.”
Maini faz questão de ressaltar, “nunca desistam dos seus sonhos, lutem por eles, estudem, passem noites acordados, pois na hora que ele se realiza todo o cansaço vira amor e esse amor transborda pelos olhos”.
Rainha na atualidade
Já com ar de despedida, as atuais soberanas, escolhidas em 2015, passam a faixa no próximo ano, quando novas meninas assumem o posto. Todas as atividades passaram a ter a titulação com um último na frente: o último desfile, o último jantar...
A Rainha da 16ª Festa Estadual do Feijão, Fernanda Brandt, foi persistente em seu sonho. “O desejo de me tornar uma soberana surgiu aos meus 16 anos, quando me candidatei pela primeira vez ao título, o amor e o orgulho que possuía pelo meu município, pela nossa festa encontraram no concurso uma possibilidade de demonstrar esse sentimento caso me tornasse uma das soberanas. Naquela edição, não fiquei entre o trio, porém, minha derrota não me abalou e o sonho de me tornar uma soberana não morreu ali. Por fim, no próximo concurso, decidi concorrer novamente e para a minha felicidade, me tornei a Rainha da 16ª Festa Estadual do Feijão.”
Sobre as oportunidades Fernanda comenta, “após a escolha, surgiu um mundo novo em minha vida, conheci novas cidades e pessoas, o que fez com que me proporcionasse uma bagagem cultural e de amizades muito grande”.
Mais de um ano e meio depois de somar-se a corte do município, esta é a mensagem que deixa: “Meu título é passageiro, mas o amor pelo meu município, pela nossa festa é eterno. Quero ser lembrada como uma soberana que não negou esforços para cumprir seus objetivos, uma soberana que representou, amou, sonhou e plantou sonhos...”
Confira momentos especiais destacados por algumas das entrevistadas:
“Acredito que o primeiro momento, logo após o anuncio da minha vitória foi muito especial. Quando fui questionada pelos jurados o porquê queria ser uma soberana e que tipo de soberana queria ser, respondi que era por amor e que queria ser uma soberana motivadora de sonhos, que ali eu estava tendo a oportunidade de motivar os sonhos dos meus alunos e de muitas pessoas. Logo em seguida me questionaram como faria isso, e respondi que seria através do meu exemplo. E depois que anunciaram minha vitória, poder ver a alegria dos meus alunos, amigos e família, poder comemorar com eles foi muito gratificante. Ali iniciava a minha jornada como uma soberana, onde cumpriria a resposta dada aos jurados. Outro momento marcante foi durante a 16ª Festa Estadual do Feijão, onde vi diante de mim uma multidão e a emoção tomou conta.” Fernanda Brandt, Rainha 16ª Festa Estadual do Feijão
“Durante a pré-abertura da FEJÃO, no dia quatro de abril, eu estava na festa e soube que meu pai havia passado mal e fora levado ao hospital. Tendo em vista que eu moro somente com ele e é meu companheiro de todas as horas, senti muito aquele momento, e antes de chegar na festa, fui ao hospital vê-lo e não sabia como lidaria com tal situação. Então, ao chegar na festa e ganhar o abraço da minha mãe, que é minha melhor amiga, não contive o choro, pois qualquer momento que envolva meus familiares e o amor que tenho para com a Festa fazem meu coração transbordar.” Maini Dornelles, Rainha 15ª Festa Estadual do Feijão
“Recordo com carinho do jantar onde apresentamos nossos trajes oficiais, pois havia muita expectativa, principalmente sobre os vestidos. Todos os momentos em que visitamos escolas e creches foram especiais, pois o carinho e o encanto das crianças era algo inexplicável, tanto eu como as outras meninas, dávamos muita atenção a elas, pois nos víamos nelas muitas vezes. No dia que usei a coroa que foi da minha mãe e minha tia, fiquei muito contente. Pensar que aquela coroa já tinha pertencido a elas e agora era eu que usava me fez sentir muito orgulho. E por fim, na data da escolha das soberanas da 16º Festa Estadual do Feijão, onde eu entregaria minha coroa e minha faixa, foi um dia marcante, pois eu chorei o dia inteiro, em casa, no salão... E apesar de desde o primeiro dia de soberana saber que aquilo tudo um dia iria terminar, foi difícil assimilar.” Natália Luiza de Freitas Fetzer, Princesa 15ª Festa Estadual do Feijão.
Rainha e princesas 15ª Festa Estadual do Feijão
Maini Dornelles
Fernanda Brandt, Rainha 16ª Festa Estadual do Feijão
Corte 16ª Festa Estadual do Feijão
Marta
Natália
Marivana
Natália, Marivana e Marta