A turbulência do futsal brasileiro
Autor: Bernardo Muller
Crise de 2014 na Confederação Brasileira de Futebol de Salão – Futsal contribuiu pra o momento
Eliminada recentemente do Mundial de Futsal realizado na Colômbia, a seleção brasileira passa por um dos momentos mais complicados de sua história. O esporte é um dos mais vitoriosos do Brasil. Ao todo são sete títulos mundiais (1982, 1985, 1989, 1992, 1996, 2008 e 2012) e duas vezes vice-campeã (em 1988 e 2000). Neste ano, o desempenho foi disparado o pior da história. O time deixou a competição na fase de oitavas de final, sendo eliminado pela seleção do Irã, país que tem pouca expressão no esporte em geral. Mas qual seria o grande problema de uma equipe que já encantou tantas vezes o mundo pelo jogo apresentado?
A “crise” começou em 2014 quando vários jogadores, incluindo o maior deles, Falcão, decidiram abandonar a seleção brasileira alegando diversas irregularidades entre os dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol de Salão - Futsal (CBFS). O assunto se estendeu e as “cabeças” da CBFS reclamaram da autonomia de Falcão, que é criticada por vários outros ícones do futsal verde-amarelo. A entidade atravessou, além da crise política, um grave problema financeiro. Sem contrato renovado com seus dois principais patrocinadores.
Procurado pela reportagem, o craque Falcão respondeu através de sua assessoria que não seria merecido o Brasil estar levantando à taça de campeão mundial nesse ano tão turbulento. De acordo com o camisa 12 uma renovação precisa ser feita. “Tem muita gente nova chegando, vou contribuir para ajudar na renovação da seleção.” Questionado sobre qual seria o melhor caminho para reerguer a seleção, o ala foi sucinto: “Precisamos ter um planejamento estável durante os próximos quatro anos”.
O Craque
Alessandro Rosa Vieira, o Falcão (foto), é o maior jogador de futsal de todos
os tempos. Por quatro vezes (2004, 2008, 2011 e 2012), Falcão foi eleito
pela FIFA como o melhor jogador de futsal do mundo (único a ter sido
eleito mais de três vezes). Em 2008, ele foi o escolhido para inaugurar a
Calçada da Fama do Maracanãzinho. Entre as conquistas mais marcantes
de sua carreira estão: Medalha de Ouro nos Jogos Pan-Americanos do
Rio, Bicampeonato Mundial com a Seleção Brasileira (em cinco participações),
dono de duas Bolas de Ouro Fifa (2004 e 2008) e aos 39 anos conquistou o
título da Copa Intercontinental de Futsal.
Dependência financeira
A cada ano que passa o futsal brasileiro se vê mais submisso ao apoio financeiro. Nos dias de hoje, está cada vez mais complicado fazer futsal com as próprias pernas. A dependência dos patrocinadores é tão grande, que muitos adicionam o nome da marca ao nome do clube, e em alguns casos até substituem. No Rio Grande do Sul, por exemplo, existe uma disparidade muito grande entre os times da Liga Nacional e as equipes que disputam apenas o estadual. A Associação Carlos Barbosa de Futsal (ACBF) é a exceção nacional. O clube é o mais organizado e estruturado do Brasil, quiçá do mundo. Um exemplo de boa gestão é a Associação Ibirubá de Futsal (ASIF). O time mantém um quadro social com média de 600 sócios, o que resulta numa renda significativa, contribuindo muito para as despesas da entidade. A equipe é uma das únicas que consegue fazer “frente” aos adversários que disputam a Liga Nacional de Futsal.
Recentemente rebaixada para a série prata de 2017, a Associação Santa-cruzense de Futsal (ASSAF) passou por um 2015 e 2016 muito complicados. Sem apoio financeiro de patrocinadores e do governo municipal, o tricolor de Santa Cruz teve que andar com suas próprias pernas. Em 2015, a equipe se manteve na primeira divisão mesmo não recebendo durante cinco meses. Sem o apoio da comunidade nos jogos, os dirigentes tiravam dinheiro do próprio bolso para bancar finanças. No ano seguinte não teve jeito. Elenco reduzido, jogadores baratos e um rebaixamento com nenhum ponto conquistado na primeira fase. A crise generalizada rebaixou um dos times mais tradicionais do futsal gaúcho.
A próxima Copa do Mundo de Futsal é só em 2020, e até lá teremos um longo tempo de reformulação. As equipes do futsal nacional precisam de mais apoio de patrocinadores e também de torcedores. O futsal gaúcho também pede socorro. As federações precisam estar junto com os clubes e também com os jogadores, que dependem muito do salário em dia, já que o comparativo financeiro com o futebol é bem inferior. O Brasil não pode perder essa hegemonia que criou no esporte da “bola pesada”.
Para o narrador e apresentador da Rádio Cachoeira, Lucas Nunes (foto), o futsal gaúcho é um dos mais disputados do Brasil, mas enfrenta uma grave crise financeira. “O futsal gaúcho ainda enfrenta problemas financeiros, e também não tem uma grande contribuição da própria federação. Portanto, se pode dizer que a situação aqui no RS ainda é emergente.” Para Lucas, ter base é fundamental para uma sequência sólida no futsal. “O futsal brasileiro tem boas equipes, mas ainda não tem realmente uma base muito sólida como temos no futebol de campo. É preciso trabalhar muito e desenvolver de maneira mais produtiva o futsal para que tenhamos uma base formadora de maior qualidade.”